PARTE VII


"Aos vinte dias do mês de fevereiro de 1811, neste arraial do Senhor do Bom Jesus de Pouso Alegre, dentro desta matriz, apareceu o Reverendo José Bento Ferreira de Melo para o efeito de tomar posse da mesma matriz, cuja posse lhe deu o Reverendo José Melo, e a ele recebeu mansa e pacificamente, sem contradição de pessoa alguma e logo fez os atos possessórios, tomando estola, beijando o altar, sentando-se na cadeira paroquial e mandando tocar os sinos, e por verdade de tudo se fez este termo em que assinam, o Reverendo empossante, o empossado com o Clero, Nobreza e Povo que se achavam".
Desse modo instalou-se a freguesia e Pouso Alegre iniciou a sua existência civil e religiosa.
Parece claro que a criação da freguesia foi devida a necessidade religiosa e a constantes solicitações do povo, auxiliado pelo Bispo D. Mateus; mas meditando-se sobre os primeiros tempos da vida do Padre José Bento, tem-se a impressão de que também ele se esforçou pessoalmente junto ao Bispo, constituindo esse fato o seu primeiro serviço à terra que interessadamente adotou.
José Bento Leite Ferreira de Melo, natural da cidade de Campanha, espontaneamente votado à vida clerical, transferiu-se aos vinte anos de idade para São Paulo a fim de completar seus estudos. Nessa capital residiu em companhia de seu protetor, o Bispo D. Mateus, até ordenar-se, aos vinte e cinco anos, em 1809.
Recebendo ordens, procurou naturalmente estabelecer-se em paróquia que lhe conviesse; então, conhecedor do Arraial do Mandu e das aspirações do seu povo, intercedeu junto ao Bispo e assim, também com a sua colaboração, foi criada a paróquia. Confirma esta suposição o fato de ter sido ele o único concorrente quando a freguesia foi posta em concurso e logo apresentado e colado, por carta do Príncipe Regente, em 7 de maio de 1811.
O Arraial de Pouso Alegre, em 1811, contava já cerca de cinqüenta casas bem construídas e não era, portanto, o Mandu com meia dúzia de casas de aparência miserável, de que um dia falou Evaristo da Veiga. Lá encontrou o Padre José Bento vivos elementos de progresso, pessoal apto para ocupar lugares na administração e para auxiliá-lo no seu intuito dos melhoramentos locais. Além disso, o Padre José Bento, logo depois de sua posse, procurou engrandecer a povoação, atraindo para ela muitos dos seus amigos e seus parentes.
Por este tempo existiam nas imediações do arraial grandes extensões de terras devolutas, as quais foram adquiridas por meio de concessões de sesmarias. Destacavam-se pelo seu valor e prosperidade, as que pertenceram a Inácio João Cobra, ao Padre João Dias de Quadros Aranha e ao próprio Padre José Bento, no lugar chamado Ribeirão das Mortes, onde teve ele, até morrer, a sua fazenda.
Cerca de vinte anos depois de criada a freguesia, já Pouso Alegre se distinguia entre as localidades sul-mineiras, tanto pelo progresso material como pelo adiantamento de seus habitantes.
E foi num meio assim, social e politicamente preparado, que o Padre José Bento, já em caminho das mais altas posições políticas, realizou um dos maiores empreendimentos da época, fundando em Pouso Alegre a tipografia que publicou o Pregoeiro Constitucional.


F  I  M


A CIDADE
Amadeu de Queiroz